May 22 / José Mariz

POCUSX Cabril 2020

No POCUSX Cabril 2020 (18 e 19 de julho) promovemos um fim de semana de partilha entre profissionais, bem como todos os entusiastas da técnica, que usam o POCUS na sua prática clínica. Quisemos mostrar, na prática, como fazemos as coisas. Quisemos que esta partilha se prolongasse no tempo.

O programa científico teve como fundo a revisão de conceitos que são como que o cerne na medicina do doente agudo, passando pelos conceitos de avaliação ecográfica cardíaca, do sistema venoso e da densidade pulmonar  (“pump, pipes and the leaks”), aliando o ambiente extra-hospitalar e remetendo para a utilidade do POCUS em contextos remotos.

Houve uma extensão aos conceitos básicos da ecografia musculo-esquelética, explorando a identificação das diferentes estruturas e os seus artefactos (tendões, nervos, músculos, ligamentos e osso). 

A exploração destes temas contou com uma abordagem com diferentes aparelhos de ecografia hand-held (em variedades de sondas conectadas com e sem fios), comparativamente a sistemas de ultrasonografia portáteis convencionais (em modo tipo computador lap-top), o que enriqueceu a experiência dos formandos independentemente do seu nível de conhecimentos prévios em POCUS.

Houve a preocupação de estabelecer os conceitos de POCUS a partir dos conceitos físicos básicos de interação do ultrassom com os tecidos, passando assim revisão dos principais artefactos e problemas na geração da imagem, e explorando as consequências da interpretação do artefacto como “facto anatómico”. 

O modelo de ensino foi centrado no treino hands-on em modelos humanos vivos normais, ao ar livre, sob luz natural. Essa experiência ganhou expressão quando a utilização de POCUS foi conduzida em ambiente de simulação que ocorreu durante uma caminhada e junto a uma lagoa, num contexto espontâneo.

Após um salto, um dos modelos simulou uma dor na região torácica, criando uma situação não esperada pelos formandos. Rapidamente se uniram esforços para assistir o paciente, reforçando a utilidade do POCUS em contextos remotos. Equipados com dispositivos POCUS hand-held, o que permitiu obter informação valiosa que complementou o exame físico, os formandos puderam excluir diagnósticos diferenciais relevantes. E potencialmente, se se tratasse de um paciente real, poderiam ter levado a cabo um tratamento no local e organizado uma evacuação.

De um lado o corpo humano, que esconde vísceras e estruturas anatómicas da visão; do outro lado o vasto universo, que pela sua vastidão se esconde também da visão e desafia o nosso raciocínio. A partir do pôr do sol focamos a nossa atenção na observação do Universo, com recurso a binóculos, super-binóculos e telescópio reflector. Da física do ultrassom durante o dia, passamos para a noite, onde a astrofísica foi o tema de reflexões na cauda do cometa Neowise.

O que se pretendeu, neste evento em Cabril, foi a conjugação com o revigorar da mente e do corpo em contacto direto com a natureza. O ponto de partida foi um local repleto de natureza, saúde e bem-estar. O ambiente proporcionado mostrou como o POCUS nos aproxima dos doentes, facilitou a comunicação entre colegas e levantou uma nova dimensão de discussão dos casos clínicos, em que pressupostos baseados em conceitos teóricos foram testados ao serem visualizados diretamente.