O Point-of-Care Ultrasound (POCUS) está a emergir como uma tecnologia poderosa que complementa a história clínica e o exame físico tradicional. O seu uso tem-se difundido significativamente, não só em unidades de cuidados intensivos e serviços de urgência, mas também em várias especialidades, incluindo a nefrologia. Neste contexto, o POCUS oferece aos nefrologistas uma ferramenta valiosa para melhorar o diagnóstico e a gestão de diversas condições clínicas.
Hugo Diniz, médico nefrologista, é formador da POCUSX e faz parte da Young Nephrologists’ Platform (YNP). Esta é uma plataforma para todos os nefrologistas com idade igual ou inferior a 40 anos, que faz parte da comunidade de membros da ERA - Leading European Nephrology.
O artigo de opinião que escreveu com colegas da Turquia no Turkish Journal of Nephrology - “Point-of-Care Ultrasound in Nephrology: A Message from Young Nephrologists” - desencadeou esta reflexão. Partilhou a sua visão sobre o impacto do POCUS, destacando os benefícios que pode trazer quando implementado de forma eficaz na prática clínica diária, especialmente para os nefrologistas mais jovens.
Na nefrologia, a ecografia é um instrumento crucial na avaliação renovesical, do enxerto renal de acessos arteriovenosos e na orientação de procedimentos. Ao colocar a ecografia à cabeceira, um dos principais benefícios do POCUS é a avaliação da volémia dos doentes, um aspecto crítico na gestão de pacientes com lesão renal aguda ou doença renal crónica.
Avaliar o status hemodinâmico é frequentemente um desafio clínico, mas POCUS proporciona uma análise precisa e em tempo real, permitindo ajustes rápidos no tratamento.
Para os jovens nefrologistas, o POCUS representa uma oportunidade significativa para melhorar a prática clínica e o cuidado ao doente. O ecógrafo à cabeceira oferece uma forma não invasiva de avaliar condições complexas e tomar decisões rápidas e precisas, o que é particularmente útil em situações de emergência, onde o tempo é um fator crucial para estabilizar o doente e prevenir complicações.
O uso do POCUS na nefrologia está em crescimento, mas a sua adoção eficaz depende de formação adequada. Países como Portugal têm sido líderes neste campo, oferecendo programas estruturados que capacitam os nefrologistas a utilizar POCUS de forma eficiente. No entanto, ainda há muito a ser feito, especialmente no que diz respeito à padronização de programas de formação e à certificação dos profissionais.
Para os nefrologistas jovens, investir em competências de POCUS é uma oportunidade valiosa de desenvolvimento, proporcionando uma vantagem competitiva no mercado de trabalho e, mais importante, uma ferramenta poderosa para melhorar o atendimento aos doentes.
Apesar dos muitos benefícios, a implementação generalizada do POCUS enfrenta ainda alguns desafios. Entre eles, destacam-se as limitações tecnológicas, a falta de padronização da formação e a necessidade de certificações reconhecidas. Superar estes obstáculos exigirá um esforço conjunto de associações médicas, sociedades científicas e colégios da especialidade, para criar programas estruturados que formem profissionais competentes no uso do POCUS.
Em países onde a formação em POCUS ainda é limitada, como a Turquia, a criação de programas de formação específicos para nefrologistas é prioritária. A adoção mais ampla desta tecnologia pode melhorar significativamente os resultados clínicos, mas requer um compromisso contínuo com a educação e o desenvolvimento de competências práticas.
À medida que a tecnologia evolui, o uso de POCUS na nefrologia tenderá a crescer, especialmente entre os jovens nefrologistas que se estão a formar num ambiente onde a tecnologia e a medicina de precisão são cada vez mais valorizadas.
Embora ainda existam desafios, como a necessidade de programas de formação padronizados e a superação de barreiras tecnológicas, o futuro do POCUS na nefrologia é promissor. Com formação adequada, esta ferramenta pode tornar-se parte integrante da prática clínica, melhorando os cuidados prestados aos doentes e os resultados clínicos.