Mar 3 / José Mariz

Dança com a Sonda: Domine os Movimentos para aplicar POCUS com Ritmo e Precisão

A realização de uma ecografia de qualidade depende fortemente da capacidade do profissional em manipular corretamente a sonda. Apesar de parecer uma técnica simples, a manipulação precisa da sonda requer conhecimento específico e prática.

Este artigo explora os principais movimentos de sonda utilizados em ecografia, esclarecendo a terminologia e técnicas que podem ajudar profissionais de saúde a melhorarem a sua performance.

A Torre de Babel da Ecografia: A Importância de uma Linguagem Comum

Estudos recentes, como o publicado no Ultrasound Journal [1], revelam que 57,5% dos profissionais de ultrassonografia consideram que a inconsistência na terminologia dos movimentos de sonda dificulta o ensino desta técnica.

Esta falta de consenso na linguagem utilizada para descrever os movimentos fundamentais pode prejudicar tanto o ensino como a prática clínica, especialmente em contextos de ensino à distância ou telemedicina.

A uniformização da terminologia não é apenas uma questão académica - é fundamental para a comunicação eficaz entre profissionais e para garantir a qualidade do diagnóstico por imagem.

Os Seis Movimentos Fundamentais da Sonda

Baseando-nos na classificação proposta por Bahner et al. (2016) e nas evoluções mais recentes do campo, podemos identificar seis movimentos principais da sonda.
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1. Varredura (Fan): O “Anti-Gravity Lean” da Ecografia

Definição: Movimento no eixo curto da sonda num ponto fixo no corpo enquanto se muda o ângulo de insonação para longe de 90°.

Este movimento é fundamental para explorar estruturas anatómicas em diferentes ângulos sem deslocar a sonda da posição inicial. Permite visualizar estruturas que podem ficar ocultas quando observadas apenas num único ângulo.
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Mas pode conhecer por “tilt”, “fan”, “lean”, preferir dizer varrimento ou usar a mnemónica do movimento do rei da pop, “the anti-gravity lean”! 

2. Deslizamento Eixo Curto (Sweep): O “Moonwalk” da Sonda

Definição: Movimento no eixo curto da sonda através do corpo, com um ângulo de insonação consistente de 90° em relação ao alvo.

Este movimento permite explorar estruturas anatómicas ao longo do eixo curto da sonda, mantendo uma imagem consistente em termos de ângulo. É particularmente útil para avaliação sequencial de estruturas adjacentes.
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O popular Moonwalk de Michael Jackson pode ajudar a que se recorde deste movimento.

3. Deslizamento Eixo Longo (Slide): O “Slide Dance Move” em Ação

Definição: Movimento no eixo longo da sonda através do corpo, com um ângulo de insonação consistente de 90° em relação ao alvo.

Este movimento é essencial para explorar estruturas anatómicas lineares, como vasos sanguíneos ou tendões, ao longo do seu maior eixo. 
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A maioria dos profissionais (88%, segundo estudos recentes) utiliza o termo "slide" para descrever este movimento.

O "side slide", também conhecido como "slide dance move" ou simplesmente "slide", é outro famoso movimento de dança criado por Michael Jackson! Qualquer semelhança é uma mera coincidência.

4. Bascular (Rock): O “Heel-Toeing” que Impressiona

Definição: Movimento no eixo longo da sonda num ponto fixo no corpo enquanto se muda o ângulo de insonação além de 90°.

O movimento bascular é crucial para visualizar estruturas profundas através de uma janela acústica limitada. É particularmente útil em exames como a ecografia abdominal e pélvica. Também conhecido como: rock ou heel-toeing. 
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E por falar em rock… Sabia que? O albúm “Thriller” de Michael Jackson é o 3º na lista dos 200 álbuns definitivos no “Rock and Roll Hall of Fame”. Está imediatamente atrás de “Dark Side of the Moon” dos Pink Floyd e “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band” dos The Beatles.

Inspire-se no videoclipe "Thriller", que mudou a história da música, quando usar o movimento bascular!

5. Rotação (Rotation): A Pirueta Perfeita para Imagens Nítidas

Definição: Movimento no eixo de compressão em sentido horário ou anti-horário.

A rotação permite alterar o plano de visualização, passando de cortes longitudinais para transversais e vice-versa. É um movimento fundamental para a aquisição de imagens em diferentes planos anatómicos.
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Michael Jackson era especialista em rotações, capaz de realizar múltiplos giros com elegância. Mas havia um detalhe interessante: ele só conseguia girar para a esquerda. Em ecografia, não há essa limitação. É preciso dominar a rotação em ambos os sentidos para obter as melhores imagens.

6. Compressão (Pressure/Compression): O Toque Firme do “Toe Stand”

Definição: Pressão aplicada sobre a sonda em direção ao corpo do paciente.

A compressão é utilizada para deslocar estruturas superficiais, eliminar artefactos por gás intestinal, avaliar a compressibilidade vascular ou a elasticidade de tecidos. Requer um toque firme, mas controlado, para não causar desconforto ao paciente.
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Também conhecido como: aplicação de pressão, push ou press. Assim como no icónico “toe stand” de Michael Jackson, o movimento em que ele se equilibrava na ponta dos pés, a compressão exige um toque firme e controlado.

Diferenças Terminológicas entre Profissionais

É interessante notar que existem diferenças significativas na terminologia utilizada por diferentes grupos profissionais. Por exemplo, um estudo recente revelou que:

  • Para o movimento no eixo curto com alteração do ângulo de insonação (Varredura/Fanning), 84% dos médicos referem-se a este movimento como "fanning", enquanto 55% dos sonografistas utilizam o termo "sweeping";

  • Para o movimento no eixo longo com alteração do ângulo de insonação (Bascular/Rocking), 69% dos médicos utilizam o termo "rocking", enquanto 55% dos sonografistas preferem "heel-toeing".

Estas diferenças sublinham a necessidade de uma terminologia padronizada para facilitar o ensino e a comunicação entre diferentes grupos profissionais.

Estratégias para Melhorar a Técnica

Para dominar os movimentos da sonda em ecografia, recomendamos:

  1. Prática deliberada: Concentre-se em dominar um movimento de cada vez antes de avançar para o seguinte;

  2. Feedback visual: Observe atentamente como cada movimento afeta a imagem ecográfica;

  3. Supervisão inicial: Aprenda com profissionais experientes que possam corrigir a sua técnica;

  4. Conhecimento anatómico: Uma compreensão sólida da anatomia ajudará a interpretar as imagens e a ajustar os movimentos de forma mais eficaz;

  5. Macro para micro: Comece com movimentos amplos para localizar as estruturas principais, seguidos de movimentos mais finos para otimizar a imagem.

A Chave para a Maestria na Manipulação da Sonda

Dominar os movimentos fundamentais da sonda é essencial para realizar exames ecográficos de qualidade. A padronização da terminologia utilizada para descrever estes movimentos facilitará tanto o ensino como a prática clínica, especialmente em contextos de telemedicina ou ensino à distância.

À medida que a ultrassonografia continua a expandir-se para diversas especialidades médicas, torna-se ainda mais importante estabelecer uma linguagem comum que permita aos profissionais comunicarem de forma eficaz sobre as técnicas de manipulação da sonda.

Referências

[1] End, B., Prats, M.I., Minardi, J. et al. Language of transducer manipulation 2.0: continuing to codify terms for effective teaching. Ultrasound J 13, 44 (2021).

[2] Bahner DP, Blickendorf JM, Bockbrader M, Adkins E, Vira A, Boulger C, Panchal AR. Language of Transducer Manipulation: Codifying Terms for Effective Teaching. J Ultrasound Med. 2016 Jan;35(1):183-8. doi: 10.7863/ultra.15.02036. Epub 2015 Dec 17. PMID: 26679204.