Oct 25 / José Mariz

Modelo dos 4 Is do POCUS: Identificação, Imagem, Interpretação e Integração

Várias são as especialidades médicas que têm aderido de forma significativa ao uso de POCUS na prática clínica e devido a esse facto é imperativo estabelecer uma diretriz para a aplicação do POCUS, seguindo um modelo de crescimento sustentável. 

O modelo dos 4 Is do POCUS envolve a compreensão das nuances da ecografia Point-of-Care, guiado pelos quatro pilares: Identificação, Imagem, Interpretação e Integração.

Este conceito deve promover a seleção apropriada dos pacientes, a ponderação das probabilidades prévias ao teste, a compreensão do espectro da doença e a expectativa de precisão do exame, tudo dentro de um contexto de avaliação alinhado com os padrões de excelência da prática clínica.
Como responsável pela formação em POCUS, percebo que as dúvidas surgem, e quanto mais pratico, mais elas se multiplicam. Mesmo tendo dois ecógrafos em casa, a experiência tátil não elimina essas incertezas. São problemáticas comuns a qualquer profissional de saúde, e o POCUS, para além de estreitar a relação com os pacientes, reforça a importância das lições fundamentais da epidemiologia clínica. Com base nisso, elaborei os 4 Is que guiam a minha prática, os quais resumo a seguir:

Identificação

Identificar corretamente o problema clínico: este deve ser colocado de forma objetiva e baseado na apresentação do doente.

Imagem

A partir da identificação do problema, saber aplicar que janela ecográfica devo obter, conhecendo as limitações do aparelho de ultrassom disponível, o biótopo do doente e o contexto global onde realizo o exame (tempo e local).

Interpretação

A partir da identificação e da imagem, saber interpretar, mais do que se vê, no curso da doença; por exemplo, o Triple POCUS na suspeita de TEP.

Integração

No final, saber integrar a informação de POCUS com a restante informação clínica do doente; muitas vezes a Integração confunde-se com a Interpretação, mas a primeira olha para os outcomes do doente e não apenas a qualidade técnica do teste em si.
É crucial garantir que POCUS seja benéfico, evitando qualquer desconforto ou dano desnecessário ao paciente. Esta abordagem não só oferece soluções adaptadas a cada cenário, mas também facilita a comunicação entre diferentes especialidades.
Estas diretrizes devem estar alinhadas com o desenvolvimento/criação de bases de dados de POCUS, nos quais a crescente evidência sobre as especificidades e sensibilidades, que convergem para o likelihood ratio apropriado, tornam o POCUS mais do que uma abordagem intuitiva e empírica, elevando-o ao status de um verdadeiro teste com o propósito de aprimorar os cuidados ao paciente.

Estamos a discutir objetivos alcançáveis?

A aplicação do POCUS não pode estar dissociada da sua integração em todo o espectro clínico.  Em comparação com outros testes utilizados na prática médica, o POCUS deve considerar as suas características como um teste de imagem realizado à cabeceira do paciente, sem negligenciar especialmente os aspectos relacionados com a sensibilidade, especificidade e likelihood ratio, entre outros parâmetros que avaliam a precisão de um teste clínico.
Para assegurar a sustentabilidade na aplicação do POCUS no futuro, é essencial incorporar um plano de avaliação contínua, seguindo os critérios de qualidade de qualquer teste utilizado na medicina. Portanto, a utilização do POCUS representa uma oportunidade de aprimorar os cuidados globais ao paciente, incluindo a realização de epidemiologia clínica de excelência.
Sem dúvida que estamos perante objetivos alcançáveis! Há cada vez maior evidência científica nas aplicações de POCUS e podem explorar aqui o que já está disponível. Para aqueles que praticam POCUS, creio que este é o caminho para um crescimento sustentado.
Recomendo a leitura de “Para onde vamos nas aplicações de POCUS na prática clínica?” onde, a partir do modelo dos 4 Is que guia a minha prática clínica, lanço temas para o enquadramento da discussão do que deve ser a aplicação de POCUS no futuro.